quarta-feira, 19 de maio de 2010

Pra quê, Fernandinho...

"Poema do amigo aprendiz
Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias..."

A carência do ser-humano é algo que não se mede, às vezes!
Esse poema de Fernando Pessoa me fez pensar em como é bonito e sincero esse pedido de paciência e ao mesmo tempo como essa necessidade de cicatrizar-se no coração dos demais é egocêntrica. Isso é superficial ao ponto que deixa de ter a sinceridade inicial. Onde está a pureza num vínculo baseado em necessidade e intenção de auto-afirmar-se? Sou romântico o suficiente para querer um motivo mais nobre, mas já que não era o caso do nosso querido autor modernista, ele tinha que me deixar confuso e irritado com esses dois últimos versos...

Sobre o resto do poema, é difícil acrescentar qualquer coisa: parece que está tudo alí. A compreenção mútua é, aparentemente, a essencia de um laço ideal entre indivíduos e a presença disso é um dos únicos fatores puros e espontâneos dentro de um vínculo (o outro seria o humor).
É lindo como não depende de quem você é, mas de como você é: desde que haja 'realidade' nas demais pessoas, tais podem estabelecer proximidade e isso rende-nos aprendizado e diversão. O lindo não é estar certo de algo, ser absoluto, SER NÃO É NADA, pois não se pode ser seguro e expressar essa segunrança, porque, para mim, sempre soa falso! Experiência e autosuficiência não estão diretamente ligados, como pode parecer, uma vez que não se pode ter certeza nem da própria existência.


""O Sol não nascerá amanhã", não é menos absurdo, do ponto de vista lógico, do que dizer "O Sol nascerá amanhã""
(David Hume - Investigações sobre o Entendimento Humano)





Estranho querer mudar o foco do blog agora, mas fiquei com vontade de divagar e simplesmente expressar o que passava pela minha cabeça ^^



domingo, 2 de maio de 2010

Em Busca a um Respeito Igualitário

A maioria dos indivíduos têm uma noção de ética incluida entre seus valores e aplicada na suas respectivas posturas, por mais que todas sejam diferentes em determinados aspectos. Porém dificilmente encontramos pessoas que incorporam esta linha moral que é o igualitarismo.
Trata-se de uma admissão das limitações, um processo que desenvolve a humildade bem fundamentada, e não meramente uma condição para ter carisma e simpatia.

Para ser igualitário, é preciso reconhecer e apreciar todas as possíveis divergências alheias e não agir em função, exclusivamente das próprias. Necessário, portanto, ser um com a sociedade, aceitar a própria insegurança e respeitar, invariavelmente, os outros indivíduos e suas posições.

O grande problema do igualitarismo, é pregar iguais direitos de oportunidade e compreenção das diferenças e, ao mesmo tempo, criar uma enorme contradição: para essa sociedade equilibrada existir deve haver um consenso sobre o respeito mútuo das diferenças, o que seria, tecnicamente uma regra, uma crença a ser generalizada. Então encontramos nossa impossibilidade prática: como pode existir uma crença universal dentro da proposta de uma sociedade caracterizada pela aceitação das diferenças?

É só uma hipótese, não minha opinião definitiva, mas existe dentro da Filosofia uma classificação de "verdades", o que nos serviria de artifício para idealizar essa sociedade utópica:

  • Verdades "a posteori": É o conhecimento sintetizado a partir da experiência. Um exemplo clássico, e muito bobo, é o seguinte: "A casa é vermelha". Não se pode saber se a casa é vermelha de fato, a menos que tenhamos a experiência de vermos com nossos próprios olhos. Exemplo besta, né? Calma que vai parecer um pouco menos daqui a pouco.
Obs.: Dentro do Ceticismo, esse tipo de conhecimento é inconfiável, pois infere-se que os sentidos, os olhos no caso, podem nos enganar.
  • Verdades "a priori": É o conhecimento sintetizado e confirmado dentro do próprio enunciado. Exemplo para comparar com o anterior: "A casa vermelha é vermelha". Ou ainda "a casa vermelha é uma casa". Nesse caso podemos concluir que é uma afirmação verdadeira dentro da própria afirmação.
A esperança dessa hipótese, provavelmente simplista demais, é recorrer ao argumento de que esse respeito invariável é uma verdade "a priori". Temos, para isso, explorar o pensamento cético. Nessa corrente filósifica tem-se que toda forma de percepção é falha e nenhum conhecimento pode ser tido com necessariamente verdadeiro.

Para ficar mais palpável, vamos relacionar nossa temática com crenças da nossa vida: afinal, há alguma que sobreviva ao tempo? Já dizia Heráclito: "Nada é permanente, salvo a mudança". Pois bem, se nada permanece, quem somos nós para outorgarmos nossas posições pessoais?

O grande problema, como já dito, é haver um senso comúm no que diz respeito a esse idealismo cético.
Essa ideia para mim é completamente espontânea e percebo-a dentro do perfil de alguns outros indivíduos, portanto pode-se dizer que é algo aceitável e logicamente válido. Nessas condições, por que não atingimos estabilidade social, ao menos nesse sentido? Bom, caso toda população mundial se encontrasse em condições adequadas para usufruir das correntes filosóficas, tivesse acesso a uma educação de qualidade, em todos os níveis possíveis, ou ainda não estivesse com tempo de sobra incipiente para parar com o cotidiano automático, que tanto incita o preconceito, e pensar um pouco nesse tipo de conflito, quem sabe as coisas não seriam um pouco diferentes...